sábado, março 22, 2008

o centésimo sexto miado


Tenho o grande prazer de anunciar um evento muito especial:

O 1º Concerto da Temporada Contemporâneus, pelo EvorEnsemble, será no próximo dia 27 de Março (Quinta-Feira) pelas 22h, no Palácio Dom Manuel, na belíssima cidade de Évora.

Um das peças é precisamente minha, e trata-se de uma estreia absoluta.
Descubram qual é dentro do programa que aqui divulgo ;-)

"Divagações" – Cristóvão Silva

"Tocam os Corridinhos!" – Nuno Rodrigues

"Sintonia" – Rogério Medeiros

"Da Loucura, do Grotesco e da Morte em Peer Gynt" – Eurico Carrapatoso

A direcção do EvorEnsemble estará a cargo do Maestro Paulo Lourenço.

Apareçam!!

quarta-feira, março 19, 2008

o centésimo quinto miado

Um concurso muito atractivo!! ;-) Por uma razão profundamente importante e marcante - a consciência corporal, mental, integral, de que é possível viver a Vida de uma forma mais plena, livre, e realmente REAL:


Aproveito também para citar algumas passagens, sempre inspiradoras, do blogue http://ashtangaportugal.blogspot.com/, a propósito também desta iniciativa:

"Ao ser questionado sobre a iluminação Ramana Maharshi (um iluminado Hindu) dizia aos seus discípulos "a sua cabeça já está na boca do tigre, a qualquer momento ele pode fechá-la..." o tigre simboliza o destino inevitável do ser humano (a transcendência, a iluminação, a morte em vida) e a mordida simboliza o tempo... uma vez iniciado o processo já não há volta, e esse é o destino de todos os seres que por acidente ou não tropeçaram em frente ao tigre...

Às vezes perdemos a motivação... é normal... faz parte do processo... mas 100% das pessoas que já praticaram de forma consistente sabem que são nesses períodos, sejam eles de paz ou de adversidade, que nos encontramos... mais conectados com a nossa verdadeira essência, sem máscaras, sem floreados... nós mesmos... aqui e agora... alguns mais do que outros, uns com maior ou menor intensidade, uns por mais ou menos tempo... já vislumbraram a possibilidade de viver nesse estado para sempre... se assim não fosse ninguém em sã consciência iniciaria o dia com as mãos unidas em frente ao coração e dedicaria 2 horas do seu dia a transpirar em silêncio e a saudar o sol, a lua, os elementos e todos os seres do planeta... mesmo sem saber... é exactamente isso que faz... praticar Yoga não é praticar ginástica exótica para ficar mais flexível... não é para ficar mais saudável... não é estar na moda... não é por que está deprimido... nem se quer é por que gosta... sim por que o melhor momento da prática é quando acaba... e olha para o resto do seu dia com a sensação de missão cumprida... venha o que vier estou preparado... Só praticamos por saber que o tigre pode fechar a boca a qualquer momento e essa mordidela pode significar a morte do Ego e do MEDO... puro e simples... Yoga na sua essência é experienciar Amor incondicional... e sabemos que é possível vivê-lo a 100%, sem flutuações..."

:-)

segunda-feira, março 03, 2008

o centésimo quarto miado

Caros leitores deste blogue, quero aqui demonstrar a minha solidariedade para com o grande amigo http://malveiro.blogspot.com/
Transcrevo aqui as suas palavras, portadoras de um testemunho que urge divulgar, a fim de se alertar as consciências individuais e sobretudo políticas... Quando é que se perceberá o poder de ser usado o melhor de nós próprios, para o bem - efectivo e profundo - de todos?
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Sou hemofílico, uma condição física que me coloca em risco acrescido permanente e que aprendi a relativizar de modo a viver uma existência não condicionada pela ameaça da doença.
Ontem de manhã tive uma hemorragia. O sabor férreo do sangue na boca começou de manhã, pelas 8horas, após o pequeno-almoço. Como estava a mais de 100 km de distância do Hospital Distrital de Faro e porque já sabia o que me esperava (este verbo é o verbo certo – esperar), tomei precauções e adiei o inevitável: bebidas geladas, gelo triturado, repouso e a esperança que os 20% de Factor VIII que a genética me concedeu fizesse o seu trabalho de coagulação. Não fez.
Pelas 17 horas, já farto de me sentir um Drácula de mim mesmo, fiz-me ao caminho, sozinho de carro, até ao Hospital Distrital de Faro. Durante a viagem, pela Via do Infante, telefonei para o Hospital e pedi para falar com a Hematologia, porque sei que geralmente nestas situações o especialista administra 1000 unidades de factor VIII: “ah, Hematologia não temos, só Serviço de Sangue. Vai ter que vir até às urgências.”… senti um arrepio, agradeci e desliguei o telefone.
Continuei a viagem temeroso do tormento antecipado.
No atendimento inicial, às 19 horas, tudo foi muito bem. Explicado ao funcionário do guiché a minha condição e estado, fui encaminhado para o atendimento de triagem dentro da Urgência.
E pronto, havia chegado ao purgatório.
A enfermeira da triagem, criatura inexpressiva perante a minha informação de que era hemofílico e sangrava desde das 8 horas da manhã, atribuiu-me uma fita amarela (Método de Triagem de Manchester – do menos grave para o mais grave: verde-amarelo-laranja-vermelho) e fui para uma sala denominada apropriadamente de “Sala de Espera”. Lá dentro as pessoas sofriam, o que é espectável num hospital. E sofriam com dores? Sim, também, mas não só. Desesperavam com a espera e a ausência de informações.
No final de tudo, às 00:15 minutos do dia seguinte, conclui que a espera desesperante, desde a cor verde até à cor laranja inclusive, não foi para todos eles inferior a 5 horas.
Assisti, entre o purgatório da sala e o inferno da Urgência própriamente dita, a algumas cenas verdadeiramente deploráveis e inaceitáveis. Os corredores estavam apinhados de macas com doentes, dezenas, quase todos idosos. Vários gritavam e choravam sem que lhes fosse dada qualquer atenção digna desse nome. O cheiro a fezes e urina era impressionante.
Da sala de (des)espera até à sala de atendimento havia apenas uma estreitíssima passagem por entre as macas amontoadas de doentes. São cerca de 50 ou 60 metros que percorri 8 vezes, ida e volta: às 20 horas, perplexo, quando fui atendido por um médico extenuado que estava de banco desde o dia anterior; depois, horrorizado, às 21horas quando me fizeram análises ao sangue entre macas e uma confusão de gente; novamente às 22:00 quando me administraram o Factor VIII; e às 00:15, quando finalmente me foi dada alta sem quaisquer outras recomendações.
A brutalidade das condições físicas do espaço e principalmente a desumanidade com que alguns dos funcionários se dirigem aos doentes merece este comentário: observei gritos de funcionários para com alguns doentes perante o olhar impávido dos médicos presentes, vi gestos de humilhação pública - entre outros, a prática da mudança das fraldas aos incontinentes à vista de toda a gente. Também assisti, como todos os utentes que passam pelo longo corredor por entre as macas até ao balcão de atendimento, ao banho sem condições de privacidade e reserva da intimidade, tudo desnudadamente feito entre discursos de contenção pseudo-técnicos que infantilizam os enfermos que se queixam, uns entre gritos lancinantes, outros entre queixumes ininterruptos. Um horror inaceitável.
Faz-me recordar, infelizmente, os meus tempos de estágio em Coimbra, quando numa visita do então Ministro da Saúde - não aquela ilustre personagem de má memória para os cidadãos com hemofilia e para as famílias dos hemofílicos contaminados com VIH – os doentes que estavam depositados como meros objectos nos corredores das urgências foram retirados pelos elevadores para os pisos superiores de modo a esvaziar o Serviço até passar sua Excelência e a comitiva de jornalistas que o acompanhavam, tudo para efeitos de propaganda. Ninguém me contou, eu assisti.
Ontem, tal como outrora, ninguém me relatou seja o que for, eu vi e sobrevivi à situação, não sem sair dela outra vez com desgosto profundo e memórias visuais do absoluto sofrimento e da miséria.